Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira (XLII)

A Sedição de 1668

Os medianamente lidos na historia madeirense sabem que a 18 de Setembro de 1668 se deu no Funchal uma sedição popular com o fim de depôr o então governador e capitão general deste arquipélago D. Francisco de Mascarenhas, que depois de ter sido preso e sofrido os maiores vexames, foi violentamente conduzido a bordo dum navio e transportado para o continente português. O dr. Azevedo nas notas ás Saudades da Terra faz referencia ao facto e dele se ocupa com alguma largueza o falecido e distinto botânico Carlos Azevedo de Menezes no interessante artigo que publicou no O Diário do Comercio de 14 de Março de 1909.

Nesse artigo lê-se o seguinte:

«Foi na tarde do referido dia 18 de Setembro de 1668 que se deu o facto que pretendemos narrar. Dirigia-se o governador para a quinta dos padres da Companhia, a pé, acompanhado do juiz de fóra e de outras pessoas, quando junto da casa de D. Francisco de Sá, lhe saíram ao encontro todos os conspiradores~ armados de bacamartes e outras armas, os quais lançando-se a ele, o derrubaram, dando-lhe algumas pancadas, ao mesmo tempo que feriram com uma cutilada o mesmo juiz, que pretendeu tomar a defesa do seu companheiro.»

Este assalto á mão armada e a prisão de D. Francisco de Mascarenhas deram-se no sitio de Agua de Mel, desta freguesia, nas proximidades da casa solarenga que ali possuía D. Gaspar de Bettencourt, quando o governador se dirigia para a propriedade ainda hoje conhecida pelo nome de Quinta dos Padres, situada no Pico do Cardo, que então pertencia aos jesuítas e que deles tomou o nome.

Veio á Madeira o desembargador João de Moura Coutinho proceder a uma larga devassa, tendo o tribunal respectivo proferido a sentença a 19 de Julho de 1673 e por ela foram condenados, entre outros, D. Gaspar de Sá a degredo perpetuo para Angola e ao pagamento de 3000 cruzados ao autor, D. José de Bettencourt e Sá, seu filho, ao mesmo degredo e 10000 cruzados de renda ao autor e 200$000 reis para despesas do processo, e D. Francisco de Sá, próximo parente de D. Gaspar “de Sá, á mesma pena de degredo para Africa e também ao pagamento de 200$000 reis.

Este D. Gaspar de Bettencourt de Sá e seu filho D. José de Bettencourt e Sá são os mesmos de que fazemos menção no capitulo Instituições Vinculares, na parte que diz respeito ao morgadio de Agua de Mel. Diz-nos um antigo livro de linhagens que D. José de Bettencourt e Sá, depois de sair da Madeira, por motivo do degredo a que fôra condenado, se ordenou de presbítero, tendo falecido a 1de Maio de 1697.

Vejam-se os capitulas Capela de Nossa Senhora do Amparo e Instituições Vinculares, que têm relações de próxima afinidade com o assunto do presente capitulo.

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