Paróquia de Santo António da Ilha da Madeira (XXXIX)

Confrarias e associações piedosas

Na Igreja Paroquial desta freguesia têm actualmente sua, sede as confrarias do Santíssimo Sacramento, Santo António, Nossa Senhora de Guadalupe e Senhor dos Passos. Em épocas mais remotas, além das que ficam mencionadas, existiram outras irmandades, que ha muito se desmembraram. De todas daremos resumida noticia, aproveitando os escassos elementos que pudemomos colher no respectivo arquivo paroquial. Também nos ocuparemos das associações piedosas, que aqui existem e que servem para mais intensamente conservar e fomentar o espirito religioso nesta paróquia.

Confraria do Santíssimo Sacramento.-É uma das mais antigas irmandades, cuja existência podemos já assinalar nos fins do seculo XVI. No ano de 16!5 reformou o seu Compromisso, tendo ainda no decorrer dos tempos remodelado algumas vezes a sua lei orgânica, sendo a ultima. no ano de 1912, em que, por ai vará de 28 de Junho, aprovou o governador civil os seus estatutos, ordenados em conformidade das leis então vigentes.

Era e é ainda a mais importante confraria desta freguesia, tanto pelo numero e categoria dos seus membros como pelos recursos de que dispõe, e também pelos bons serviços que presta na realização de muitos actos do culto. Possuía varias prédios rusticos nesta freguesia e um em S. Martinho, dos quais alguns foram vendidos em obediência ás leis da desarmortisação, e outros que passaram a estranhos possuidores e de que já hoje não ha conhecimento. Os seus bens estavam onerados com- diversos encargos pios, parecendo-nos que alguns deles deixaram ha muito de cumprir-se, sendo certo que ainda actualmente se celebram trinta missas anuais em satisfação de muitos desses encargos. .

Pertencem-lhe algumas alfaias de valor, como pixides, um ostensório, varas de palio, cruzes, e castiçais de prata, que são de uso quase -quotidiano no serviço cultual desta Igreja.

Esta Confraria, além da sua festa patronal, faz celebrar todos os anos as festas do Natal, da Semana Santa e da Ascensão do Senhor.

 

Confraria de Santo António

É também muito antiga esta irmandade, e talvez mesmo se possa remontar a sua existência a uma época anterior á do Santíssimo Sacramento, mas, apesar disso, poucas referendas temos encontrado que possam interessar á sua historia. Os seus estatutos foram reformados em 1871 e aprovados pelo governador civil do distrito, por alvará de 5 de Abril do mesmo ano.

Possuía algumas terras, contando-se entre elas um

prédio que lhe fora legado por Antoni? Jorge, no ano de 1707, com o encargo perpetuo duma missa anual. Na freguesia do Arco da Calheta tinha esta confraria uma propriedade rustica, convertida depois na pensão foreira anual de cinco mil reis. Tudo isso se perdeu infelizmente, não havendo, desde muitas dezenas de anos, noticia do cumprimento destes encargos pios, celebrar anualmente a festa do seu patrono, que é também o orago da Igreja Paroquial e uma das mais lidimas glorias da nossa pátria

 

Confraria de Nossa Senhora de Guadalupe

A referencia mais remota que temos encontrado ‘a esta confraria data do ano de 1652, mas julgamos que ela ainda é de época muito anterior a esta. Para evitar desnecessárias repetições, remetemos o leitor para o capitulo Nossa Senhora de Guadalupe, onde nos ocupamos deste assunto com algum~desenvolvimento. A actual confraria faz celebrar a festa anual da sua padroeira, precedida do respectivo novenário, segundo a letra expressa dos seus estatutos.

 

Confraria dos Passos do Salvador

Esta irmandade destina-se especialmente a promover o saimento da procissão dos Passos do Salvador. Reuniu-se pela primeira vez em Fevereiro de 1924, aprovando-se então o seu Compromisso. É a confraria desta freguesia de mais recente fundação. .

 

Confraria das Almas.

Já existia no ano de 1694, mas conjecturamos que é de época pastante anterior a esta. Tinha por fim especial sufragar as almas dos defuntos e m,ais particularmente ainda as dos seus confrades. Além da festa realizada no dia da Comemoração dos Fieis Defuntos, fazia celebrar em todas as segundas feiras do ano uma missa seguida de procissão e outros sufrágios pelas almas do Purgatório. No ultimo quartel do seculo XVIII deixou esta Confraria de celebrar a sua festa patronal e de prestar aos seus membros os sufrágios prescritos no Compromisso, tendo-se organizado de novo e com estatutos próprios no ano de 1805, mas a partir de 1824 não alcançamos mais noticia dela. Ha muito que deixou de existir. Veja-se o capitulo Capela de Santa Cruz e Almas.

 

Confraria da Santíssima Trindade

Foi das mais antigas e florescentes irmandades, constituindo ela um factor muito apreciável no movimento religioso desta paróquia. Já no ano de 1630 estava organizada com seu Compromisso especial e avultado numero de confrades, tendo altar privativo na antiga igreja e passando a te-lo na igreja actual. Possuía alguns prédios rústicos, que durante muitos anos foram administrados pela Fabrica Paroquial, quando a Confraria deixou de ter vida propria e autonoma. Em 1838 e por alvará do governador civil, de 10 de Julho deste ano, reorganizou-se a antiga irmandade, de que não ha mais noticia depois do ano de 1852. No sitio do Curral Velho existe um pequeno prédio, que era pertença desta extinta irmandade e que é hoje administrado pela Fabrica desta Igreja Paroquial

 

Confraria do Senhor Bom Jesus.- Tanto a antiga como a actual Igreja Paroquial tinham um altar especialmente consagrado á imagem do Senhor Bom Jesus, que nesta freguesia foi obtecto de grande veneração e dum generalizado e fervoroso culto. O numero avultado de missas e de sufrágios que muitas pessoas legaram, em disposições testamentarias, para ser celebradas neste altar mostram a intensa e geral devoção que nesta freguesia havia para com aquela veneranda imagem. Eram também muito numerosos os irmãos alistados na respectiva confraria, que já estava organizada no ano de 1752 e cuja existência não foi além do primeiro quartel do seculo XIX. Tinha alguns bens de raiz, de que hoje não ha memoria, sabendo-se apenas que lhe pertencia, passando a ser administrado pela respectiva Fabrica Paroquial, um foro de cinco mil reis, imposto num prédio, situado no Boliqueme, de cerca de vinte alqueires de terra e que se acha registado na Conservatória do Registo Predial desta comarca.

 

Confraria de Nossa Senhora da C01tceição

É de 1727 a noticia mais antiga que encontramos referente ‘a esta irmandade e nada mais sabemos acerca dela posteriormente ao ano de 1855. Teve altar privativo na antiga igreja e possuía algumas pequenas propriedades.

 

Confraria de Santa Maria Madalena. meados do seculo XVIII existia uma Confraria deste nome com sede na sua respectiva capela. O pouco que a tal respeito pudemos saber encontra-se no capitulo capela de Santa Maria Madalena.

 

Confraria de Nossa Senhora aa Soledade

Com o fim de prestar culto especial á imagem de Nossa Senhora da Soledade, foi estabelecida nesta Igreja uma Confraria com aquela denominação, que teve seus estatutos aprovados por alvará do governador civil de 20 de Abril de 1891, recebendo a respectiva aprovação camararia, por provisão episcopal de I I de Maio do mesmo ano. Somente podiam fazer parte dela os irmãos da confraria do Santíssimo Sacramento. Ha muito que se acha extinta.

 

Ordem Terceira de São Francisco

No mês de Janeiro de 1916 foi estabelecida nesta paróquia a Ordem Terceira de São Francisco, que actualmente conta mais de cem membros e que realiza as suas reuniões ordinárias no ultimo domingo de cada mês desta casa vincular, vamos integralmente transcrever o que a seu respeito encontramos na Historia Insulana,de António Cordeiro, a pg. 222 do volume 1.°, ed. De 1866.

“O terceiro capitão, e já só da ilha de São Miguel, foi o dito Rui Gonçalves da Camara, que logo então veio para São Miguel; veio porém já casado com D. Maria de Bettencourt, filha de Nossen João Bettencourt, que tinha sido segundo rei das Canarias, e sucedido nellas ao primeiro rei seu tio, mas desta senhora franceza não teve filho algum Rui Gonsalves, e por isso com ele fez partilhas em vida de ambos, e ella ficou com cento e cincoenta mil reis de fôro cada anno, e trinta também de fôro em Ribeira Grande e o.utras fazendas de tal renda, qne tudo. junto. em cada anno rendia dois mil cruzados; e então. ella mandou vir da Madeira Um seu sobrinho. legitimo., por nome Gaspar Bettencor e instituiu morgado nelle; e nem em vida do. marido consentiu que lhe chamassem Capitoa, nem ella se intitulava senão D. Maria: deixou em testamento. ao concelho de Vila Fran’ca dois moios de terra já limpa e frutivera, com a co.ndição que o.s gado.s qne viessem de ca.minho, pudessem dormir uma noite e mais não: mandou fazer no Funchal da Madeira, na Egreja de São Francisco, á mão direita do Cruzeiro uma capella e que a ella levassem seus ossos: foi enterrada na capella-mór da matriz do Archanjo São Miguel em Villa Franca, muito antes de se subverter, porque então lá residia o governo da ilha».

Morreu D. Maria de Bettencourt em 1491 na ilha de São Miguel. Ignoramos se os seus despojos mortais seriam trasladados para a capela dos Mártires, que fez Apostolado da Oração.-Esta associação pia, mais vulgarmente conhecida pela nome de Devoção do Sagrado Coração de Jesus; estabeleceu-se nesta freguesia no ano de 1878, par ocasião. da grande missão. evangélica que aqui deram as padres Tomás Vital e Joaquim Machado., tendo a data de 2 de Outubro daquele ano. a respectiva diploma de agregação. Foi e continua senda ainda principal factor do desenvolvimento religiosa, que desde aquela epoca se tem aperada nesta praquia, devendo. lembrar-se neste lugar as nomes das falecidas conego Henrique Modesta Bettencourt e padre Teodoro João. Henriques, pela acendrada zelação que dedicadamente trabalharam pelas prasperidades daquela agremiação, esfarçanda-se por que nela se mantivesse sempre a primitiva espirito de devaçãa e ‘piedade, que deve ser a principal carateristica destas assaciações pias. Muitas dos seus membras frequentam diariamente os sacramentos, um numera ainda maiar pratica a observância das actos preceituadas para as primeiras sextas-feiras de cada mês, fazenda-se além disso a festa patronal com notável solenidade e celebrando-se toda a navenaria do mês dedicado. ao Coração de Jesus. O seu numero de associadas é aproximadamente de dois mil.

 

Confraria do Sal1tissimo e lmaculado Coração de Maria

Outro factor muito apreciável para a difusão da sentimento religioso foi o estabelecimento desta Confraria, cabendo a esta praquia a honra de ter sido. a primeira desta diocese em que ela se fundou. A sua inauguração solene realizou-se no dia 2 de Fevereiro de 1916,. sendo os seus estatutos aprovados por decreto episcopal de 18 de Janeiro. do mesmo ano. Esses documentos, acompanhados duma noticia histórica desta Confraria e das graças e privilegios que lhe estão anexos, foram publicados no 111.° 22 da revista Paróquia de Santo António do Funchal de 22 de Janeiro de 1916, que por brevidade não reproduzimos neste lugar. Esta Confraria conta mil e seiscentos membros.

 

Outras agremiações pias

É já bastante antiga a chamada Devoção do Rosario Vivo cujo numero de associados se eleva a dois mil e seiscentos.

A Agregação do Santíssimo Sacramento que tem oitocentos membros, propõe-se especialmente a adoração do Santíssimo Sacramento, fazendo-se a exposição solene no primeiro domingo de cada mês, durante todo o dia, e o respectivo encerramento, ao cair da tarde, com sermão e outros actos do culto.

Existem ainda nesta paróquia a Confraria da Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus} com mais de mil membros, e a associação dos Pagens do Santissimo Sacramento em que se acham alistadas mais de duzentas creanças.

Conferencia de São Vicente de Paulo.

As associações pias chamadas Conferencias de São Vicente de Paulo que especialmente se destinam a socorrer a pobreza envergonhada, tem sua representação nesta freguesia com a modesta Conferencia de Santo António fundada no dia 13 de Outubro de 1913 e agregada ao Conselho Central de Paris, por diploma datado de 23 de Fevereiro de 1914. Tem 20 membros activos, e socorre, nos seus domicílios, cerca de 50 pobres. A sua receita no ano próximo passado foi aproximadamente de quatro mil escudos.

 

 

Deixe um comentário